A Corte Internacional de Justiça (CIJ), principal tribunal da Organização das Nações Unidas (ONU), iniciou nesta segunda-feira (28), em Haia, as audiências para o julgamento sobre as obrigações de Israel em relação às atividades de organizações humanitárias, da ONU e de outros Estados nos territórios palestinos ocupados.
A análise do caso começa mais de 50 dias após Israel impor um bloqueio total à entrada de ajuda humanitária aos palestinos na Faixa de Gaza. Em outubro de 2024, Israel proibiu as atividades da Agência da ONU para Refugiados Palestinos (UNRWA), que fornece assistência aos palestinos.
Nesta segunda-feira, representantes do Estado Palestino foram os primeiros a se manifestar no Tribunal alegando que Israel viola sistematicamente as leis internacionais ao proibir o acesso dos civis à ajuda humanitária. O embaixador da Palestina na ONU, Riyad Mansour, sustentou que Israel bloqueia a assistência com objetivo de anexar os territórios ocupados.
“Eles buscam acabar com nossa presença na Terra como nação. Não é coincidência que Israel tenha destruído em Gaza todos os recursos necessários à vida do nosso povo e à sua própria sobrevivência, incluindo hospitais e escolas, abrigos e padarias, terras agrícolas e instalações de água e saneamento”, disse Mansour.
O palestino disse ainda que Israel mata agentes humanitários para privar a população de qualquer assistência. “O que torna isso ainda mais escandaloso é o fato de pessoas que fogem de bombardeios e são deslocadas repetidas vezes, lidando com perdas terríveis, terem o auxílio negado. Elas estão morrendo de fome enquanto a comida apodrece na fronteira”, completou.
As audiências iniciadas pela CIJ são fruto de resolução aprovada na Assembleia Geral da ONU em 19 de dezembro de 2024, quando os países, por ampla maioria, pediram “com urgência” um parecer consultivo da corte sobre as obrigações de Israel para “garantir e facilitar a entrada sem obstáculos de suprimentos urgentes essenciais para a sobrevivência da população civil palestina”.
Israel não reconhece a jurisprudência da corte da ONU e informou que não enviará representante para o tribunal, acusando-o de perseguição. O parecer consultivo da CIJ não gera qualquer obrigação a Israel, que segue sem cumprir diversas decisões das entidades ligadas à ONU.
Quarenta e quatro países manifestaram interesse em participar das audiências, além de quatro organizações internacionais. As audiências seguem até o dia 2 de maio. Devem se manifestar representantes dos Estados Unidos, da China, do Brasil, da África do Sul, da Rússia, do Reino Unidos, da Arábia Saudita, entre outras nações.
Milhões de vidas
O conselheiro para o Estado da Palestina, Alain Pellet, afirmou na audiência que a vida de mais de milhões de pessoas em Gaza estão em jogo.
“Mais de 2,1 milhões de pessoas estão presas, bombardeadas e famintas novamente, enquanto nos pontos de passagem alimentos, remédios, combustível e suprimentos de abrigo estão se acumulando e equipamentos vitais estão presos”, disse.
Outro conselheiro da Palestina, Ardi Imseis, por sua vez, destacou que Israel busca eliminar a agência UNRWA de Gaza e da Cisjordânia.
“Dada a amplitude das capacidades da UNRWA em fornecer ajuda emergencial, estabilidade e resiliência ao povo palestino de maneiras que nenhuma outra organização consegue fazer operacionalmente, é dolorosamente óbvio por que Israel insiste em eliminar a agência. Simplesmente, a UNRWA é a última esperança que o povo palestino, particularmente na Faixa de Gaza, tem de sobreviver ao genocídio de Israel”, afirmou.
Israel
O governo do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu afirma que não permitirá a entrada de ajuda humanitária na Faixa de Gaza enquanto o Hamas não se render totalmente e enquanto não devolver todos os reféns ainda em poder do grupo.
Enquanto ocorriam as audiências em Haia, o ministro das Relações Exteriores de Israel, Gideon Sa’ar, acusou a ONU de perseguir Israel e voltou a sustentar que a agência da ONU para refugidos palestinos é “infestada de terroristas”.
“Este caso faz parte de uma perseguição sistemática e de deslegitimação de Israel. Estão abusando do sistema jurídico internacional e o politizando. O objetivo é privar Israel de seu direito mais básico de se defender. Não é Israel que deve ser julgado. É a ONU e a UNRWA”, destacou em coletiva a jornalistas, em Jerusalém.
Israel sustenta que a UNRWA participou do 7 de outubro de 2023, quando o Hamas atacou vilas israelenses no sul do país. Porém, Israel não apresentou evidências dessa participação quando solicitadas por investigação independente.
Na semana passada, ao comentar sobre os pedidos para permitir a entrada de ajuda humanitária em Gaza, Netanyahu afirmou que “a ajuda que vai para o Hamas não é humanitária”.
Já o Hamas afirma que havia a previsão de entregar todos os reféns feitos no dia 7 de outubro caso Israel tivesse cumprido o acordo de cessar-fogo de janeiro e desocupado a Faixa de Gaza.
Fonte: agenciabrasil.ebc.com.br Acessar