Mais uma vez as músicas dos Beatles levaram uma multidão ao Aterro do Flamengo, na zona sul do Rio, para acompanhar o bloco Sargento Pimenta fundado em 2010. O primeiro desfile foi realizado no ano seguinte e nesta segunda-feira (3), na 13ª apresentação, nem o calor intenso desanimou os foliões, que a todo momento recebiam jatos de água para se refrescar.
Logo quando começou, o Sargento levou o título de melhor bloco do concurso Serpentina de Ouro, promovido pelo jornal O Globo. Ali, o desfile ainda era em ruas estreitas no bairro de Botafogo, também na zona sul. No ano seguinte, com a adesão de mais foliões, passou para a área mais extensa do Aterro do Flamengo, com a característica de não se deslocar pelas ruas, e lá permanece até hoje. O público estimado é de 500 mil pessoas.
Músicas
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O Sargento Pimenta gosta dos Beatles, mas dá espaço também a outros artistas e não é difícil ouvir e se animar ao som de músicas de Rita Lee. Como ocorre com as composições do quarteto de Liverpool, os ritmos são variados e os foliões se divertem com uma música composta originalmente como rock, ser tocada como forró.
Foram justamente as músicas dos Beatles que atraíram o músico e artista visual Daniel Gnattali, 39 anos, para participar logo no primeiro ano do Sargento Pimenta. No ano seguinte, ele estava lá de novo, mas com uma diferença: se vestiu de John Lennon, o seu Beatle preferido, e não parou mais.
“Há mais de dez anos faço isso porque amo o carnaval e os Beatles. Acho que todo mundo que está aqui compartilha desse mesmo sentimento. O carnaval é universal e os Beatles também. Essa união é muito bem-vinda porque ajuda a cultura a atravessar a dimensão temporal. Acho que é isso que fica e a obra continua viva.
Daniel faz sucesso entre os foliões que pedem para fazer selfies com ele. “A galera gosta de interação. Fico feliz de poder estar aqui também compartilhando energia com todo mundo. A gente se entrega e recebe muito também”, disse à Agência Brasil
Paul McCartney também estava presente. O jornalista Carlos Alciati Neto, 43 anos, há seis vem de São Paulo, capital, para aproveitar o carnaval do Rio, mais especialmente o Sargento Pimenta. Se vestir como o seu Beatle favorito também já está no roteiro. “Há quatro anos venho com a fantasia. Eu venho para curtir o carnaval do Rio, mas a prioridade é vir de Paul McCartney no Sargento Pimenta. Não perco um ano, aqui e no pré-carnaval em que eles foram no Ibirapuera, também fui”, contou à reportagem.
“Por influência dos meus pais, gosto muito de Beatles, algumas músicas do grupo têm uma pegada muito animada que lembram marchinha, esse ritmo de carnaval, e, para o brasileiro, tudo vira samba. É uma mistura muito boa. Acho que é por isso que faz tanto sucesso o bloco deles”, avaliou, revelando que na próxima quarta-feira (5) volta para a sua cidade.
Profissionalmente, Felipe de Souza Pereira, 38 anos, é juiz, mas neste carnaval se vestiu de Spin, amigo do Homem-Aranha, para ir ao Sargento Pimenta levando, pela primeira vez, os filhos Ema, de 1 ano 2 meses, e Oscar, de 4 anos. “Quero deixar eles com essa herança de curtir os blocos do Rio de Janeiro. É importante manter essa tradição”, disse à Agência Brasil, se divertindo com as crianças no bloco que considera ter “um clima mais família”.
Ao responder se Beatles no carnaval dá certo, foi bem direto: “Com certeza, tudo no carnaval dá certo, samba, pagode, música eletrônica. O importante é ser feliz”, afirmou.
Homenagens
Para o coletivo do bloco, comemorar os 80 anos ou mais de artistas vivos, como Paul McCartney e Ringo Starr, ou prestar homenagens póstumas, como neste ano à Elis Regina – que, se fosse viva, completaria 80 anos no dia 17 deste mês – é uma forma de incentivar um carnaval sem etarismo.
As amigas Margareth Falcão, 65 anos, e Vera Munhoz, 61 anos, chegaram cedo para ficar na frente, encostadas na grade que separa a área do público do palco. “Desde o primeiro desfile deles em Botafogo eu participo”, disse Margareth à reportagem.
“Uma vez Beatles, sempre Beatles. É tradição. É por isso que a gente vem aqui curtir. É bom demais. De geração para geração, não tem fim. Daqui uns anos, meus netos estarão aqui também”, comentou Vera à Agência Brasil.
Outro que constata a cada ano essa renovação dos foliões é Gustavo Gitelman, um dos fundadores do Sargento. Ele arriscou um motivo. “acho que é a potência da mensagem da música dos Beatles, que é atemporal e faz parte da vida de todo mundo. Os pais acabam querendo estar com os filhos e ensinar talvez para netos”, observou.
A permanência de um público fiel, para Gitelman, é resultado da combinação de fatores como a resiliência das pessoas que fundaram o bloco, além da potência do carnaval, uma festa centenária, das músicas, dos Beatles, que sempre fizeram parte da vida de muitas pessoas de várias gerações. O divulgador vê com preocupação os anúncios de despedida de outros blocos que criticam a infraestrutura exigida para a apresentação no carnaval carioca, o que, para eles, inviabiliza os desfiles. “É uma decisão mais emocional do que passional a gente continuar saindo, mas a gente é passional mesmo e não vai desistir por hora, a não ser que fique realmente inviável. Vemos com preocupação isso que acontece com os outros, porque, no final, todo mundo perde. Quanto mais gente conseguir fazer uma festa boa e bonita, mais gente vai ganhar”.
Policiamento
A Polícia Militar do Rio montou um esquema de patrulhamento em toda a área onde os foliões se espalhavam. O esquema contou com 110 policiais militares do 2º BPM, além do apoio de equipes da Força de Ação Tática, com oito a dez agentes em cada uma das três equipes. Além disso, o policiamento contou com drones e torres de policiamento montadas em diversas partes no entorno do bloco.